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Jorge O Mourão (b. 1945) Brasil 1.872.000 Minutos, Noves Fora? (1977) A Pátria (1977) Shave & Send (1977) As the military dictatorship made its presence felt in Brazil in the late 60s, many of the country’s artists went into exile, such as Caetano Veloso, Gilberto Gil and Hélio Oiticica. The films of Jorge O Mourão, who followed a similar diasporic trajectory. Mourão’s films, a collection of autobiographical performance pieces, constitute visceral reactions to the authoritarian regime in Brazil and channel the paranoia and claustrophobia of his generation through the disjunction of sound and image. With Shave & Send presented with live incidental sound, here is an unprecedented chance to encounter the work of an intriguing exponent of experimental cinema. Jorge O Mourão (Rio de Janeiro-RJ, 4 de outubro de 1945). Artista orgânico, cineasta, jornalista e escritor. Inicia os cursos de Administração Pública na EBAP, Escola Brasileira de Administração Pública, e de Direito na Universidade Cândido Mendes, mas não chega a concluir nenhum deles. Em 1965, logo após o golpe militar, passa uma temporada na Argentina, seu primeiro período fora do Brasil. Ao retornar, no mesmo ano, funda, no Rio de Janeiro, com Walmir Ayala e Álvaro Guimarães, o grupo Teatro de Câmara. Após encenação no Teatro Opinião de O Galo de Belém, peça infantil de Ayala, decide arrendar, em 1966, o Teatro de Arena da Guanabara, localizado no Largo da Carioca (e que, em 1974, seria demolido para dar espaço à estação de metrô). No fim do mesmo ano, vê o local ser invadido pela polícia, que reprime e dispersa uma reunião da UNE que ali acontecia. Antes que o regime o impedisse, decide sair do país. Em janeiro de 1967, após realizar um leilão de livros e roupas na praia de Ipanema, embarca no "voo da amizade" da TAP. Depois de 22 horas de viagem e duas escalas, chega à Lisboa salazarista, sendo logo impelido a partir - de carona - para a França. Em Paris, junta-se ao grupo de exilados que, vivendo de maneira precária na cidade, organiza o Comité révolutionnaire brésilien, seguindo uma rigorosa cartilha leninista. Viaja ao sul da França e participa da montagem de Le Saravá, restaurante franco-brasileiro em Saint-Tropez. De volta a Paris em 1968, organiza, com Michele Aguillera, o Carnaval brésilien em frente à Mairie du 5ème., cuja intenção era contribuir com fundos para o movimento revolucionário no Brasil. Pouco tempo depois, seria expulso do comitê por suposto comportamento anarquista. Estava em Paris em maio de 1968, onde ajudou a organizar o Comité luso-brésilien na Sorbonne ocupada. Detido em meio às manifestações de rua, sem passaporte e recusando-se a responder às perguntas das autoridades, acaba detido. Passa a noite em pé em uma cela superlotada, mas é logo solto, não existindo crime que lhe pudesse ser imputado. Após o esvaziamento do movimento na França, parte para uma viagem ao Oriente chegando até o Nepal. No pequeno país, consegue trocar a turquesa que havia adquirido no Irã pelo fragmento de um meteorito. Se abastece de haxixe e, depois de muitas fronteiras por terra, retorna à França. De volta ao Brasil em 1969, em pleno AI-5, reencontra Teresa Brandão. Permanece no país apenas até conseguir lugar para embarcar num navio graneleiro com destino a Nova Orleans. No mar do Caribe, ouve falar do Festival de Woodstock e de um furacão que se aproxima, o que implica em um desvio de rota. Em Nova Orleans, pega carona para Nova York, onde consegue trabalho numa fábrica de salsichas. Ali permanece até juntar dinheiro suficiente para retornar à Europa. Com Teresa Brandão, passa a viver entre Paris, Londres e Nova York. Em 1970, viaja com Fernando Pereira a Israel onde realizam um documentário sobre refugiados numa favela construída com sucata de aviões abatidos. De volta a Paris, os dois chegam a filmar uma ficção no Bois de Fontainebleau. Em Londres, em 1971, atua nos filmes Crazy Love de Julio Bressane e Night Cats de Neville de Almeida. Em viagem pela Bolívia em 1972*, conhece e se apaixona pela cultura Aymara. Em dezembro deste mesmo ano, filma em Super-8 o nascimento de Koki Aymara em Nova York, seu primeiro filho e seu primeiro filme em Super-8. Koki inaugura aquilo que Mourão chama de "linhagem Aymara", que propõe agregar filhos da "geração 68 on the road". Liège Monteiro e Neville d’Almeida também aderiram à proposta ao também dar ao filho o nome Ayamara (Tamur Aymara nasceu em Londres). Em 1974, retorna ao Brasil. Em 1975, se estabelece no emblemático endereço da rua Rua Mem de Sá, 41, a jusante dos Arcos da Lapa, região central do Rio de Janeiro, ocupando um sobrado que, naquele momento, estava para ser demolido. O espaço será por dez anos a sede do espaço cultural L.O.F.T. - Galeria Alternativa, laboratório de criação e espaço multimídia dedicado à produção e lançamentos de trabalhos independentes e sede dos Archivos impossibles by Mourão, selo criado pelo artista para identificar sua produção. Sob ele nasceram também produções de outros cineastas: Walter Lima Jr. (Lira do delírio, 1978), Neville de Almeida (Rio Babilônia, 1982) e Fernando Silva (Amenic, 1983 ). O prédio do L.O.F.T. só viria a sucumbir de fato em 1985 devido a um incêndio, quando já estava sob a responsabilidade de Albino Pinheiro. Ainda em 1975, Mourão organiza o Restaurante Natural, pioneiro de alimentação macrobiótica. Em 1977, antes de partir para uma nova temporada no exterior, filma A Pátria (Super-8, 3') e Brasil 1.872.000 Minutos/Noves fora? (Super-8, 21'), tendo como cenário o próprio L.O.F.T.. Já em Nova York, realiza Shave & Send (Super-8, 16', 1977), Costumes da Casa (Super-8, 9’,1977) e Washington Square Sunday (Super-8, 7’, 1978), entre outros e contando sempre com a participação especial de Teresa Brandão. Ao retornar ao Brasil em 1978, continua com as atividades do L.O.F.T. e filma Gungala, o último travesti (Super-8, 3’, 1978), Mariza única (Super-8, 3’, 1978), entre outros. A partir de 1980, passa a se dividir entre Rio de Janeiro e Trancoso, na Bahia. Nos Archivos impossibles, acumula todo material que possui filmado em Super-8 (são cerca de 50 rolos produzidos entre 1972 e 1979), além do registro de outras produções culturais às quais Mourão vem se dedicando desde os anos 1970. É autor dos livros Maconha em debate (Brasilense,1985), Brazilian Connection (Massao Ohno, 1990) e Tragédia na seita do daime (Imago,1995). Com Fausto Wolff, em 1982, após a vitória de Brizola, edita a Tribuna Socialista, publicação do Grupo de Comunicação do PDT. Desde 1990, edita A Folha de Trancoso. Em 2001, A Pátria, Brasil 1.872.000 Minutos/Noves fora?, Costumes da Casa e Shave & Send foram programados por Rubens Machado Jr. na mostra “Marginália 70: O experimentalismo no Super-8 brasileiro”, ocorrida no Itaú Cultural, em São Paulo. Foi a primeira vez que esses quatro filmes, os chamados "fab four", foram telecinados. Até hoje, são seus filmes mais referenciados. Em 2017, eles foram exibidos na Tate Gallery em Londres, dentro da mostra “Tropicália and Beyond: Dialogues in Brazilian Film History”, junto com filmes de Glauber Rocha, Arthur Omar, Ivan Cardoso e Carlos Adriano. Em 2018, foi homenageado pela 12ª Mostra do Filme Livre, que exibiu, além dos quatro curtas acima mencionados, o episódio dedicado a ele do programa "Super 8 - Tamanho também é documento", do Canal Brasil, produzido por Clóvis Molinari Jr. Em 2019, os “fab four” e Washington Square Sunday foram digitalizado e exibidos na 1ª Mostra Cine Brasil Experimental, ocorrida no Centro Cultural São Paulo. Atualmente, Mourão prepara o documentário L.O.F.T.doc sobre o funcionamento da galeria entre os anos de 1975 e 1985. Também escreve o livro Paris, Katmandu – das trincheiras de 68 ao hashish. |